terça-feira, 31 de outubro de 2017

Abrir-se ao outro


No processo de ressignificação da vida, um dos grandes ganhos que se pode alcançar, é enxergar que todos nós estamos de alguma maneira interligados. Assim como perceber que cada pessoa se constitui como tal na relação com outros sujeitos, ao mesmo tempo em que também participa ativamente da história de vida de tantos outros. Essa é uma realidade incontestável da nossa condição humana: somos seres sociais. E por isso o outro sempre fará parte da existência de cada um de nós. O grande desafio é fazer com que esse convívio se torne positivo e favorável ao próprio processo.

Algumas pessoas mantém a crença ilusória de que é possível viver à margem das relações. Essas pessoas enaltecem um estilo de vida solitário e fundamentam essa escolha a partir da concepção de que as pessoas são más e traiçoeiras. Essa atitude nos leva a questionar as verdadeiras razões desse tipo de pensamento: de fato as pessoas são essencialmente perversas ou existem feridas provocadas especificamente por alguém que marcou em profundidade a história de vida? Honestamente, acreditamos na segunda opção. A questão é que fechar-se para as outras pessoas provoca grande sofrimento para si mesmo e essa proteção de si na verdade não acontece.

É preciso que se tenha abertura para o outro no processo de ressignificação da vida, pois é no convívio com ele que novas experiências são possíveis. As relações, quando bem construídas, têm muito a colaborar com o processo de tornar-se pessoa de cada um: a troca de experiências amplia nossa visão da vida e isso nos faz mais sensíveis ao que está ao nosso redor, o que é próprio do humano. Isso quer dizer que abri-se ao outro faz de cada um de nós mais gente. E não há quem possa esquivar-se dessa realidade.

Gabriela Neves

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Administrar os próprios sentimentos


Os sentimentos são uma área misteriosa e enigmática para muitas pessoas. É difícil compreendê-los e, por isso mesmo, lidar de maneira razoável com o que sente é um verdadeiro desafio para cada um de nós. Muitas vezes é mais fácil escondê-los, ignorá-los ou até mesmo mascará-los. Deparar-se com o que verdadeiramente se sente é trabalhoso, mas ajuda a ter uma visão mais clara de si mesmo e da realidade como um todo.

É muito comum ouvir as pessoas dizendo por aí: “sentimento não se controla”, “o sentimento é o que manda” ou “sentimento é terra de ninguém”. O problema de afirmações como essas é que atribuem aos sentimentos um caráter quase que tirano, como se nada pudesse ser feito frente a eles, restando a nós apenas viver de acordo com o vai e vem das emoções. Cada dia mais esse tipo de mentalidade vai se expandindo entre as pessoas e, como consequência, temos acompanhado o emergir de toda uma sociedade imatura afetivamente e incapaz de administrar aquilo que sente.

Podemos administrar os sentimentos! Isso quer dizer que somos capazes de aprender a lidar com eles. É verdade que na maioria das vezes não escolhemos quais sentimentos devem surgir em cada ocasião, muitas vezes eles apenas aparecem como reação a determinado acontecimento. Porém, isso não quer dizer que minhas atitudes devem sempre obedecer aos meus sentimentos. É importante ver-se livre para escolher como agir, mesmo tendo sentimentos contrários ou conflitantes. Isso é ver-se capaz de administrar os próprios sentimentos.

Assim, não é porque estou com raiva que necesariamente tenho que me envolver numa discussão, ou porque tenho medo que tenho que me acovardar. Posso escolher adotar uma atitude pacífica apesar da minha raiva, bem como posso enfrentar corajosamente aquilo que me amedronta ou paralisa. Os sentimentos não podem ser ditadores das minhas ações, mas antes é preciso que eu saiba dialogar com eles para meu próprio bem e para o bem daqueles que estão ao meu redor.

Gabriela Neves

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Perdoar a quem me feriu


No texto da semana passada, falamos sobre a dificuldade de perdoar a si mesmo, o que tem gerado grande sofrimento para muitas pessoas. Hoje vamos refletir sobre a necessidade de perdoar as pessoas que marcaram negativamente nossa história, o que é igualmente árduo ou até mesmo mais desafiador que perdoar a si próprio.

É desafiador porque, para a maioria das pessoas, a reação mais natural ao ser ferido por alguém é alimentar raiva, rancor, chegando até mesmo ao ponto de calcular alguma vingança contra aquele que foi a causa da dor que se sente. O problema é que ao agir dessa forma, a pessoa não percebe que o grande prejudicado em meio a esse turbilhão emocional é ela mesma. Essa pessoa parece criar a ilusão de que está “castigando”o outro ao negar-lhe o perdão e que permanecer nessa postura, de alguma maneira, faz com que o outro também caia em sofrimento, o que não corresponde à realidade. A verdade é que ela causa sofrimento a ela mesma toda vez que se nega a perdoar, o que acaba virando um grande “tiro no próprio pé”, como se diz por aí.

Não estamos aqui dizendo que perdoar é um ato egoísta. É claro que também traz uma leveza à pessoa a quem foi concedido o perdão. E essa experiência de fazer o bem a quem se tem mágoas e ressentimentos nos traz amadurecimento e crescimento enquanto pessoa humana; pois “pagar na mesma moeda”é atitude própria dos infantilizados. O fato é que o perdão liberta. Liberta a todos envolvidos na situação desastrosa que gerou feridas. Dar e pedir perdão pode até ser um processo difícil, mas sem essa experiência não há como ressignificar a vida e ser feliz.

Gabriela Neves

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Perdoar-se é uma arte


Se existe algo que muitas vezes é muito difícil no processo de ressignificação da vida é saber lidar com os momentos de falha pessoal, quando fizemos escolhas que não contribuíram em nada. Ao contrário, trouxeram problemas e situações de sofrimento para nós mesmos e para as pessoas ao nosso redor. Muitas pessoas têm verdadeiras travas quanto a isso, não conseguem se perdoar e acabam presas a esses fatos do passado, o que as impede de viver em liberdade numa experiência de amadurecimento.

Aqui, o mais complicado, seja saber lidar com o sentimento de culpa. Deparar-se com consequências ruins que poderiam ser evitadas caso nossas escolhas fossem diferentes faz com que nasça em nós a culpa, o arrependimento, o que muitas vezes não é simples de administrar. Quando a pessoa não consegue lidar com esse tipo de situação, não consegue perdoar a si mesma pelos erros cometidos, adotando uma postura de carrasco de si mesma. Pode ser que manter-se assim seja uma tentativa até mesmo inconsciente de punir a si mesma pelos seus erros, mas podemos questionar se esse tipo de atitude tem algum potencial para trazer benefícios para si. Acreditamos que não, agindo assim a pessoa só conseguirá cada vez mais sentir pena de si mesma e se condenar, mantendo-se sempre numa posição inferiorizada e desvalorizada.

O fato é que todos erramos. Todos temos momentos inconsequentes, egoístas, impulsivos. E negar-se a conceder o perdão a si mesmo não vai mudar o que passou, nem amenizar o que de ruim pode ter sido gerado. É preciso deparar-se com os próprios erros de forma amadurecida e equilibrada. Tanto a negação dos próprios erros quanto a absolutização deles são prejudiciais. É necessário permitir-se enxergar os próprios deslizes, ao mesmo tempo em que torna-se hábil para fazer as pazes consigo mesmo. Esse é um dos segredos do equilíbrio e da leveza.

Gabriela Neves

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Evitar justificativas


O texto de hoje falará sobre um aspecto muito delicado para muitos: as famosas justificativas. É verdade que muitas pessoas têm um hábito bastante arraigado de justificar as próprias ações e atitudes a todo momento; essas pessoas têm grande facilidade de expor motivos e desculpas para dar razão à maneira com que lidam com as situações da vida, muitas vezes querendo se isentar de assumir a responsabilidade pelas suas atitudes.

O fato é que viver se justificando para as pessoas é um gesto que prejudica o processo de amadurecimento pessoal em largas escalas. A pessoa madura tem consciência de seus atos e das consequências deles e não tem problemas em admitir que errou e reparar seus deslizes. Por outro lado, a pessoa imatura a todo momento procura convencer a si mesma e aos outros de sua inocência perante seus atos, como se estivesse procurando manter uma imagem imaculada de si mesmo. Talvez essa pessoa não se permita errar, e quando isso acontece, tem grande dificuldade de lidar com a situação.

Não estamos aqui dizendo que em nenhuma situação da vida as justificativas se fazem necessárias. O problema é quando elas se tornam o procedimento padrão. É muito difícil conviver com alguém que é incapaz de perceber os próprios erros e a todo momento coloca a responsabilidade de seus atos em outras pessoas ou em outras situações. Além de causar grande perturbação ao seu redor, elas mesmas se mantém num estado de infantilidade perante a vida. É importante avaliar-se sempre nesse quesito, com a consciência de que só cresce aquele que está disposto a encarar a própria verdade, sem procurar por justificativas que atenuem a própria realidade.

Gabriela Neves